Quando era criança, minha mãe
fazia toufu em casa e aquele cheiro de leite de soja me matava de enjôo. Passava
mal quando comia soja e seus derivados, então fiquei uns 35 anos sem comer
toufu nem tomar leite de soja. Até que lá no Japão, a médica recomendou incluir
a soja na minha dieta para baixar os níveis de colesterol. Bom, pensei, vou ter
que engolir aquela coisa ruim. Comecei com os toufus delicados, super soft, chamados
kinugoshi. Geladinhos, com muito gengibre fresco ralado, cebolinha e shoyu do
bom, era uma delícia, sem aquele cheiro característico e eram branquinhos,
quase um flan de tão macios. Depois, com o tempo, comecei a comer soja negra
todos os dias. E toufu no misoshiru, mabôdoufu (toufu refogado com carne moída
e molho picante) e edamame, aquela soja verde que normalmente acompanha uma
cerva bem gelada. Vende pré-cozida nos supermercados, em galhos ou só as
favinhas. No verão, sempre é um bom petisco!
Daí...dias desses atacada por
uma enorme vontade de comer toufu com shoyu, o que vi no supermercado me deixou
na maior revolta: uma embalagem de toufu a quase 11 reais, o dobro do preço dos
que são vendidos em sampa! Surtei! Aqui em casa, não há economia com comida,
mas pagar 11 reais por um toufu industrializado e muito reba é demais! Me deu
coragem para arregaçar as mangas e por a mão na massa.
Encontrar uma soja boa foi
uma saga! Tive que me contentar com um pacote de grãos pequenos, tipo amarelo,
orgânico. Daí, foi só encontrar o coagulante e mandar ver! Para quem estava
acostumada a fazer queijo tipo minas frescal no Japão, posso garantir que o
processo da produção de queijo de soja é bem mais fácil. Valeu a pena, saiu do
jeito que eu queria, durinho, sim, porque o darling-cobaia prefere o tipo
Momen, com a textura um pouco mais “grossa” que o sedoso kinugoshi e ele disse que está
aprovadíssimo, melhor que o vendido nos mercados e de bônus temos o resíduo da
soja que tem mil utilidades!
Toufu (de ± 700 gramas)
500 gramas de soja
4 litros de água filtrada
4 colheres de sopa de Cloreto
de Magnésio (usei 33 gramas)
2 copos de água morna para
dissolver o cloreto
Prepare uma ou duas fôrmas, pode
ser uma embalagem de margarina, mas fure o fundo e as laterais ou embalagem
longa vida de leite cortada e furada ou fôrma para queijo. Prepare uma tampa, que pode ser papelão
embrulhado em papel alumínio, mas tem que ser menor que a boca da fôrma, para
poder ficar em contato com o toufu. Prepare um peso para pressionar o toufu.
Usei 1 pacote de farinha envolto em papel-filme (wrap) como peso.
Na noite anterior, coloque a
soja numa bacia e cubra com água.
No dia seguinte, descarte
essa água onde a soja ficou de molho.
Bata a soja no liquidificador
com os 4 litros de água (divida em várias porções).
Leve ao fogo essa mistura
obtida, fogo não muito forte, misturando sempre e retirando a espuma que vai se
formando na superfície.
Quando ferver, deixe mais 10
minutos, sempre misturando.
Retire do fogo, deixe amornar
um pouco, coe num pano limpo (coloquei um pano dentro do amassador de batatas ,
despejei um pouco da soja batida e apertei bem para escorrer o leite, repetindo
várias vezes o processo até acabar a soja), separando o resíduo do leite. O
leite obtido vai ao fogo novamente só para aquecer, cerca de 70º C (não deixe
ferver!!!).
Desligue o fogo.
Dissolva o cloreto de magnésio
na água morna e coloque dentro da panela com o leite de soja, misturando com
uma colher de pau. Deixe descansar por 15 minutos.
Coloque a mistura numa fôrma
(ou duas) forrada com um pano, aperte por cima, coloque uma “tampa” que fique
em contato com o toufu e por cima, um peso. Usei de 1 quilo. Deixe escorrendo
por 20 a 30 minutos.
Desenforme numa bacia com água
gelada.
Guarde na geladeira dentro de
um recipiente com água. Se não consumir tudo, troque a água todos os dias.